MÁRCIA ELIZA SZÉLIGA

(Márcia Széliga / *Ponta Grossa, PR, Brasil, 1963)

Márcia Széliga nasceu em 1963, em Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Por parte de pai é neta de imigrantes poloneses, que chegaram ao Brasil durante a segunda fase migratória. Seu avô paterno chamava-se José Széliga. Filho de Vicente e Rozalia Széliga, trabalhou como lavrador e foi casado com Maria Széliga, filha de João e Agniska Sotolowski. Faleceu em 1941, aos 70 anos. Seu filho, Hilário Széliga, pai de Márcia Széliga, nasceu em 1925, em Marechal Mallet, a antiga Vila de São Pedro de Mallet, no Paraná. Trabalhava no comércio e casou-se com Josepha Bulek Széliga, que gosta de ser chamada de Elizabeth por ser seu nome de batismo. Desde criança, Márcia demonstrou excepcional talento para o desenho. Passava horas a fio desenhando e estudando os elementos do desenho de forma autodidata. À medida que ia crescendo, a arte lhe permitia manter viva a sua imaginação ou, como ela mesma disse, nunca parar de brincar… e de sonhar. Mudou-se para Curitiba em 1978, e iniciou seus estudos em Pintura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 1981. Já no primeiro ano de curso, participou de salões e mostras e, durante o segundo ano, realizou sua primeira exposição individual, no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, em Curitiba. Daí para frente recebeu diversos prêmios e menções honrosas. Graduou-se em 1984. Após uma pesquisa acerca de temas da cultura indígena para incorporar a seus desenhos, Márcia sentiu necessidade de aprofundar-se nesses significados e experiências. Por isso, em 1989, viajou para a Amazônia, e lá conviveu por três meses com os índios Kanamari, da bacia de Juruá. Logo depois, foi contemplada com bolsa de estudos do Governo polonês para uma especialização em Desenho Animado na Academia de Belas Artes de Cracóvia, onde, ao mesmo tempo, estudou a língua polonesa, na Universidade Jagiellonska. De sua estadia e convivência na Polônia absorveu insights para seu trabalho como artista e se enriqueceu como pessoa. No tempo em que lá esteve, nada lhe passava despercebido, desde a maquiagem extravagante da garçonete que a atendia, até os típicos corvos poloneses beliscando migalhas de pão nas ruas de Cracóvia. Tudo passou a fazer parte de sua obra, que, ao mesmo tempo que apresentava a atmosfera eslava, mantinha a exuberância da natureza tropical brasileira. Em 1992 fez estágio no Musée de l’Homme, em Paris, desenhando uma coleção de peças indígenas brasileiras presentes em seu acervo. O resultado dessa pesquisa foi a elaboração de um belíssimo trabalho em formato de cartões-postais. Sem abandonar a carreira nas artes visuais, começou a trilhar caminho como ilustradora de literatura infantojuvenil. Um pouco mais tarde, tornou-se também autora nesse gênero, lançando quatro títulos: Do céu ao céu voltarás, No trilho do trem, A rua barulhenta e Totem, este um livro de imagens. O livro autobiográfico Carrossel dos sonhos, acompanhado de impressionantes reproduções de suas obras e depoimentos sobre sua trajetória artística, dá uma medida de seu vasto portfólio e da intensidade de seu processo criativo. Hoje Márcia Széliga se destaca como uma das mais talentosas ilustradoras de literatura infantojuvenil brasileira. Ilustrou mais de uma centena de livros de renomados autores nacionais e participou de importantes exposições de ilustração tanto no Brasil como no exterior, com destaque para a “Bienal de Bratislava”, na República da Eslovênia. Diversos livros que receberam suas ilustrações foram premiados no Brasil, tais como os de autoria de Luiz Antonio Aguiar: Esopo – liberdade para as fábulas, que ganhou o prêmio de melhor livro ilustrado da Associação de Escritores e Ilustradores do Livro Infantil e Juvenil (AEI-LIJ) e ficou entre os finalistas do prêmio Jabuti na categoria infantojuvenil pela Editora Escarlate Brinque Book; e Vovô vai para as estrelas, que foi incluído na lista oficial de livros literários do Programa Nacional de Livros e Materiais Didáticos do Ministério da Educação. Márcia continuou produzindo no âmbito das artes visuais, em diversas modalidades, inclusive cartazes e painéis, realizando um número considerável de exposições individuais e coletivas, participando em salões e bienais em espaços e instituições nacionais e internacionais. Destacam-se as exposições individuais, em Curitiba, “Trajestórias” e “Totens de Luz”, no Centro Cultural Solar do Barão e no Villa Hauer Cultural, respectivamente. Suas obras identificam-se pelos poéticos agrupamentos figurativos que invariavelmente compõem suas temáticas, ao mesmo tempo que se diluem em jogos de agradáveis movimentações e riqueza cromática. Por vezes, traz para elas suas próprias lendas pessoais, seus textos poéticos, materiais que encontra na natureza. Considerando a arte como uma forma de estabelecer a ponte entre o mundo humano e o mundo das coisas invisíveis – e o artista, seu instrumento –, Márcia Széliga não pretende ser classificada segundo tendências artísticas, mas é fiel a seu processo criativo, fazendo dele uma busca interior e mística, cujo destino, no entanto, pode ir muito além de si mesma, como coloca, em poesia: De Luz em Luz, de Sombra em Sombra, vagueiam as cores, os traços, as formas pelo universo mágico dos sonhos, onde tudo é possível, seres invisíveis, seres lendários, bichos, plantas, sons. Silêncio… carregando símbolos, metáforas, presságios talvez? Formas encantadas sussurram o que a arte quer dizer além da expressão da artista, que faz da artista seu instrumento para cumprir um papel para com a vida. E para com a Vida que está por detrás da vida: lúdica, onírica, viva. Abre-se a escuta para o que a obra deseja conversar com a alma de cada ser. E ser a obra em si muito mais além do que a artista quer dizer. Em busca de aperfeiçoamento artístico e vivencial, Márcia fez ainda formações e pesquisas em biopsicologia, terapia e arte-terapia. É uma das cofundadoras da Casa da Cultura Polônia Brasil, em Curitiba, onde atua ativamente desde a fundação. Essa desenhista, gravadora, pintora, ilustradora, escritora, arte-terapeuta e ministrante de oficinas é dona de riquíssimo acervo e tem ainda muito a oferecer à história da arte paranaense e ao mercado editorial infantojuvenil brasileiro. Vive e trabalha em Curitiba.

(Coautoria: Heliana Grudzien e Ivi Belmonte)

Márcia Széliga. Foto: Nicole Giller.
Celebração da vida. 1,5 m x 1 m. Foto: Mauro Giller.