JOÃO OSORIO BUENO DE BRZEZINSKI

(João Osorio Brzezinski / *Castro, PR, Brasil, 1941)

João Osorio Brzezinski nasceu em 1941, em Castro, Paraná.  É neto de Piotr Brzezinski, polonês nascido em 1860 e casado com Paulina, nascida em 1864. Imigraram para o Brasil por volta de 1880 através do porto Dantzig, atual Gdansk, chegando ao Paraná e se estabelecendo em Pacatuba, município de Timoneira, atual Almirante Tamandaré. No Brasil, Piotr Brzezinski dedicou-se primeiramente à lavoura, depois montou uma olaria e o primeiro forno de cal da região. Posteriormente, dedicou-se ao comércio e passou a residir com a família no bairro Abranches, em Curitiba, onde faleceu em 1947. Teve 11 filhos: Maria, Francisca, Angélica, Constância, Bernardo, Martha, Pedro, Eva, Simão, José e Isidoro João, este último pai de João Osorio. Isidoro João (que viveu entre 1904 e 1990), enquanto estudava Direito na UFPR, trabalhou como escriturário de cartório e em um escritório de advocacia em Curitiba. Formou-se em Direito, casou-se com Conceição Bueno de Brzezinski (1907-1993) e, como promotor adjunto e depois como juiz, morou com sua esposa em diversas cidades do interior do Paraná, terminando a carreira em Curitiba como desembargador, presidente do Tribunal Eleitoral e vice-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná. O casal teve cinco filhos: Lourdes, Thereza, Guido, Carmem e João Osorio. João Osorio Brzezinski teve contato com as artes visuais desde cedo, observando as pinturas e desenhos que seus familiares faziam. Também adorava teatro e música. Na verdade, parece que seu interesse se estendia a tudo que existe – e é assim até hoje. Dizem que não tem quem não se encante com a personalidade desse eterno jovem, que usava meias irreverentemente coloridas e que, com apenas 18 anos, recebeu seu primeiro prêmio, no “2º Salão Universitário de Artes Plásticas”, em 1959, realizado pela União Paranaense de Estudantes. Mais 10 prêmios ou menções honrosas viriam − como no XVII, XVIII e XIX “Salão Paranaense de Belas Artes” − antes mesmo de ele completar os cursos superiores de Pintura, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, e Didática de Desenho, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em 1962 e 1963, respectivamente. Tornou-se um dos artistas paranaenses mais premiados, com mais de 30 prêmios recebidos ao longo de sua carreira, que assumiu dimensões nacionais. Foi considerado um dos melhores desenhistas do Brasil. Difícil encontrar algum dicionário, alguma enciclopédia ou estudo crítico de arte, paranaense ou brasileiro, que não cite João Osorio Brzezinski. Nos anos 1960, sua contribuição para a construção do modernismo no Paraná foi fundamental. Deu impulso à inserção da abstração – no seu caso, de viés expressionista – no campo das artes visuais, inovando e surpreendendo a opinião pública e os críticos de arte atuantes em Curitiba e no Paraná. Desejando reinventar a pintura, propondo novas formas, relações e dimensões, incursionou pela colagem. Levou a pesquisa dos materiais às últimas consequências. Dialogando com brilhantismo com a Pop Art e o Kitsch, foi pioneiro no uso de tecidos como a estopa e a chita – materiais baratos, que se compra em lojas populares – colados sobre a tela, explorando os limites do conhecimento sobre a arte e demostrando uma visão crítica acerca de suas condições de produção. Ora, para o artista, tudo é arte se for encarado como arte. Incluiu, também, elementos verbais – letras, palavras e frases – em seus desenhos, pinturas e colagens, dando-lhes um sabor lírico. João Osorio Brzezinski passou a se projetar, graças a essas características inusitadas de seu trabalho gráfico e pictórico, e a ganhar interesse pelo caráter despojado e experimental de sua obra. Participou de exposições em todo o Brasil, como a VIII e IX “Bienal Internacional de São Paulo”, a “I Bienal de Artes Plásticas da Bahia” e o XV e XIX “Salão Nacional de Arte Moderna”, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1968, João Osório Brzezinski ocupou a prestigiada cadeira de Desenho de Modelo Vivo, até então ocupada pelo mestre Guido Viaro, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, instituição onde Brzezinski lecionou por 28 anos. Nos anos 1970, inovou ainda mais. Continuando o diálogo com o Pop e o Kitsch e aprofundando o questionamento a respeito da obra de arte, passou a desenvolver os “objetos caipiras”, assemblages feitas com objetos de plástico do cotidiano – como tampas, baldes, canecas – que ironizavam a contradição entre o mundo desenvolvido e suas tecnologias e o subdesenvolvimento. Nessa década, foi diretor do Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, e orientador no Centro de Criatividade de Curitiba. Na década seguinte, também integraria o Departamento de Arte da Universidade Federal do Paraná. Tendo como paixão a natureza, o mar e, em especial, o voo (pilotou ultraleve, monomotor, planador, asa-delta, etc.), e inspirado a expressar os estados contemplativos em que nesses momentos “mergulhava”, João Osorio Brzezinski passou a produzir paisagens de caráter neorrealista. Sobre as marinhas de Brzezinski da década de 1980 e as metamorfoses das obras do artista ao longo de sua trajetória, principalmente no que diz respeito à cor, Jamil Snege escreveu, no texto “Navegar, segundo Osorio”: O que a pintura de João Osorio tem a ver com o submarino amarelo dos Beatles? O azul. Mas não vamos mexer nisso agora. Porque um olhar marinheiro aborda a praia, a pedra, o promontório. Não olhar de banhista, ao rés d´água. Mas olhar encarapitado na gávea, olhar náutico, alado, afogado de céu.Deixemos, porém, isso pra depois. João Osorio Brzezinski, final da década de 1960, é considerado um dos melhores desenhistas do país. Ele aceita o incenso com uma passividade búdica. Desconversa. Prefere que lhe falem de suas meias – João Osorio usa meias cardinalícias, delirantemente cromatizadas. O oposto de seus desenhos, que são um gestual calígrafo de ocres e sépias, velhas cartas náuticas, ou ainda in-fólios medievais que um monge distraído acabou por esquecer na lavanderia do mosteiro. O êxito comercial ou o êxodo? O pudor da cor o conduz ao segundo. Meias berrantes, sim. Mas no apergaminhado do papel há que se garafunhar pastel, donzel, com recatado escrúpulo. Tempo do LSD. O mundo vive uma revolução cromática. João Osorio recusa-se a embarcar no submarino amarelo. Mas, clandestinamente, o submarino amarelo embarca em João Osorio e segue com ele para o exílio com uma carga oculta de pigmentos iriantes. As primeiras marinhas, Ilha do Mel ao fundo, ainda se esbatem numa superfície de névoa, cinza-azulada. Depois são as falésias da Normandia – e aí já se percebe que a cor transgride o voto de silêncio e o monge delira em acústicos verdes e despudorados azuis. Mas é em Búzios, e agora em Fernando de Noronha, que a carga vaza intensamente – amarelos submarinos, púrpuras de cardeal, cobaltos usinados em profundezas de guelras e nadadeiras – o bote da moreia fragmentando o olho invasor. João Osorio Brzezinski não parou por aí. Posteriormente, passou a explorar instalação e novamente colagens, passando, inclusive, por vitrais. A influência da cultura polonesa se faz perceber na obra do artista, segundo Theodoro de Bona (importante artista paranaense, que foi professor de Brzezinski na Escola de Música e Belas Artes do Paraná), num jeito polaco de trabalhar, fuçando em minúcias, começando errando e completar corrigindo. Brzezinski – esse pintor, desenhista, objetualista, instalacionista, professor, de espírito inquieto, dotado de uma inesgotável criatividade e para quem “arte é vida” – já participou de mais de 200 salões, exposições coletivas e mostras, já realizou em torno de 20 exposições individuais e tem dezenas de obras compondo acervos de museus e espaços culturais pelo Brasil. Continua sendo um dos mais reconhecidos artistas paranaenses atuantes. Vive e trabalha em Curitiba. 

(Coautoria: Heliana Grudzien e Ivi Belmonte)

(João Ozorio Brzezinski / Fotografia: Adriana Brzezinska)
(Obra sem título. 1999. Acrílica sobre tela, 20 x 20 cm / Fotografia: Adriana Brzezinska)