SOFIA WINKLEWSKI DYMINSKI

(Sofia Dyminski / *Varsóvia, Polônia, 1918 / †Curitiba, PR, Brasil, 2013)

Como consta em seus documentos oficiais, Sofia Dyminski nasceu em 1918, em Varsóvia, Polônia. Mas já voltaremos a isso. Com apenas 11 anos, em 1929, mudou-se para o Brasil com sua família e se naturalizou brasileira. Seu filho, Antonio Dyminski Junior, conta com detalhes os fatos que antecederam a vinda de seus antepassados ao Brasil e outros textos biográficos fornecidos pela família iluminam a história: O pai de Sofia Dyminski, Eduardo Valeriano Winklewski (os nomes que aqui aparecerão estão traduzidos para o português, sendo a grafia original desse nome “Edward Waleryan Winklewski”), nasceu em 1881, em Inowroclaw, na época, território alemão. Recebeu formação acadêmica na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Técnica de Mittweida. Em 1903, seguiu para a China, onde serviu no exército alemão por quatro anos. Ao retornar à Polônia, instalou-se na cidade de Varsóvia, onde conheceu sua futura esposa, Praxeda Hovard, mãe de Sofia, com quem, após idílico namoro, contraiu núpcias, em 1911. Com o início da I Guerra Mundial, em 2014, não desejando integrar o exército alemão novamente, Eduardo Winklewski se refugiou com a família no interior da Rússia, na antiga cidade de Orenburgo, às margens dos Montes Urais, onde trabalhou no comitê da Sociedade Polonesa de Assistência às Vítimas de Guerra. Com o fim da I Guerra e a revolução comunista na Rússia, retornou com a família à Polônia, nas condições mais adversas, lá chegando em 1920. Sofia Dyminski, na verdade, nasceu na Rússia, mas foi registrada por seus pais em Varsóvia, como se tivesse nascido ali. Sofia recebeu sua primeira formação em arte na escola primária polonesa, cujos métodos educacionais eram muito avançados. Eduardo Winklewski havia assumido funções em um escritório que tratava de importações de café do Brasil, foi quando tomou conhecimento desse país. Com o novo recrudescimento da situação política na Europa e as lembranças geladas do exílio, resolveu se transladar para um país de clima tropical, que já era assunto de suas tratativas e, assim, mudaram-se para o Brasil. Residiram alguns anos em São Paulo e, em 1932, mudaram-se para Paranaguá, cidade litorânea paranaense, onde Sofia Dyminski passou sua juventude, até o ano de 1940, quando se casou com Antonio Dyminski, também de origem polonesa. Ainda segundo Antonio Dyminski Junior, esse período em que Sofia residiu em Paranaguá muito influenciou a maneira pela qual ela enxergaria a arte. O contato com as belezas da paisagem natural ― o mar e as montanhas ―, com a vida simples do pescador, habitante do litoral paranaense, formou as matrizes que determinaram sua tendência artística. Sofia Dyminski residiu com o marido em outros estados brasileiros, estabelecendo-se, em 1950, em Curitiba, onde viveu e trabalhou até 2013, ano de seu falecimento. Incentivada pelo marido, Sofia Dyminski passou a se dedicar intensamente à sua paixão ― a carreira de artista plástica. Estudou pintura, orientada pelo pintor e mestre Guido Viaro, do qual sua obra obteve grande influência. Outra inegável e importante formação de Dyminski foi o rico diálogo que estabeleceu, ao final dessa década, com artistas que integravam o vanguardista Círculo das Artes Plásticas do Paraná, sob orientação da professora e crítica de arte paranaense Adalice Araújo. Sem dúvida, a prática artística de Dyminski contribuiu para a consolidação do movimento modernista no Paraná, na década seguinte. Suas obras pertencem ao expressionismo-figurativo por excelência. Sofia Dyminski foi uma artista talentosa, curiosa, investigativa. Fez uso de materiais não tradicionais — como areia ― na solução pictórica. Aberta a novas experiências, incursionou pelo abstracionismo, mas voltou à figuração, após passar, inspirada na arte pré-histórica, pelo bugrismo. Enriquecido por seu eslavismo, o amor à natureza e à terra fizeram-na pioneira ao retratar, por meio de suas pinceladas expressionistas, a vida indígena e cabocla, a religiosidade, a radiosidade solar e o cromatismo tropical. Adalice Araújo explica que a artista sempre teve a preocupação de respeitar as tradições locais, adotando a temática regionalista, recriando-as, porém, com um espírito moderno. Conhecida como “A Pintora dos Trópicos”, “A Gauguin Brasileira” ou, ainda, “A Poetisa da Existência”, sua obra transpira vigor, lirismo e emotividade e a coloca em evidência entre os mais importantes e completos pintores que figuram na história da pintura paranaense e brasileira. Realizou em torno de dez exposições individuais e participou de mais de 80 exposições coletivas nacionais e internacionais, com destaque para a “Arte Paranaense Contemporânea”, em Ohio, Estados Unidos, em 1980. Foi extensamente premiada. Os prêmios recebidos no Salão Paranaense de Belas Artes renderam-lhe participação na exposição “Paranaenses mais Premiados nas Quarenta e Duas Edições do Salão Paranaense”, em 1986. Foram realizadas exposições póstumas em sua homenagem, como “Sofia Dyminski em fases”, no Espaço Cultural Biblioteca Universidade Positivo, em Curitiba. Obras suas podem ser encontradas em diversos acervos importantes dessa cidade, como os do Museu de Arte Contemporânea e do Museu Paranaense. Durante sua profícua carreira, Dyminski foi também professora do curso de Letras Polonês da Universidade Federal do Paraná e tradutora da língua polonesa para o português. Entre suas traduções está a do livro W Brazylii. Segundo Antonio Dyminski Junior, O Padre Zygmunt Chelnicki, em 1891, foi encarregado pelo governo polonês de escrever um grande relato sobre a situação dos emigrantes poloneses, sua situação de adaptação climática, suas situações econômicas no novo país, entre outros assuntos, que resultaram nesse relato maravilhoso, que minha mãe teve o incansável trabalho de traduzir. Foi concluído em 2010 e publicado no Brasil pelas Edições do Senado Federal. Em 1982, Sofia Dyminski foi agraciada com o título de “Cidadã Honorária de Curitiba”.

(Coautoria: Heliana Grudzien e Ivi Belmonte)

Sofia Dyminski. Fotografia: Antonio Dyminski.

Pescadores em repouso. 2000. Óleo sobre tela. 1,20 m x 0,92 m.
Fotografia: Antonio Dyminski