Heliana Grudzien nasceu em 1948, em União da Vitória, Paraná. Seus bisavôs paternos foram Jozef e Juliana Grudzien, provenientes de Varsóvia, região da Mazóvia, Polônia. Chegaram ao Brasil nos anos 1890, na segunda fase da imigração polonesa, acompanhados de quatro filhos jovens: Julio, Jan, Jozef e Antoni, este último, avô de Heliana Grudzien. Jozef Grudzien, tio-avô de Heliana, é detentor de medalha de honra concedida a soldados da América originários da Polônia que lutaram pela Independência da II República Polonesa, nas frentes de Szampanii, Wolynia, Lwowa e Pomorza. Antoni Grudzien casou-se com Izabel Sobzak, também de ascendência polonesa. Fixaram-se na região de Curitiba, onde trabalharam na construção civil e na marcenaria. Nessa cidade, podemos encontrar edifícios das décadas iniciais de 1900 que foram erguidos com suas mãos, bem como são seus diversos trabalhos de entalhe em madeira que figuram em igrejas existentes não só ali, como em diversas cidades do interior do Paraná. Heliana Grudzien herdou o talento artístico dos seus familiares paternos, uma vez que todos os seus tios-avôs, tios e seu pai, Casemiro Grudzien, possuíam inclinação e talento para o desenho, a pintura e o entalhe em metal e madeira. Casemiro Grudzien, além de exímio desenhista, era excelente projetista arquitetônico. Desde criança, incentivada pelo pai, que a presenteava com fascinantes caixas de lápis de cor e cadernos de desenho, Heliana começou a trilhar o caminho da arte. Ainda muito jovem já conquistava prêmios em festivais de arte da escola. Em 1974, graduou-se em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Depois, trabalhou como programadora visual da Rede Ferroviária Federal S.A. em Curitiba e em Porto Alegre e cursou a faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, entre 1978 e 1983, interrompendo-a ao sofrer um grave acidente de trânsito. De volta a Curitiba após a experiência traumática, seu processo de recuperação foi acompanhado da criação de desenhos a lápis de cor, voltados ao universo fantástico do realismo mágico. Desde então, Heliana Grudzien não abandonou mais o desenho artístico. Pouco tempo depois, desenvolveu algumas séries de cunho metafísico, cujo mote − a ecologia − remetia ao mesmo tempo ao luto e à defesa e valorização da vida e da natureza. Nessa época, realizou diversas exposições individuais, em Curitiba e no interior do Paraná, firmando sua trajetória nas artes visuais. Em agosto de 1989, foi contemplada por uma bolsa de estudos em nível de pós-graduação do Governo polonês e viajou à Polônia para se aperfeiçoar em Artes Gráficas. Em Cracóvia, estudou o idioma polonês na Universidade Jagiellonska e frequentou o Estúdio de Cartazes da Academia de Belas Artes, com Piotr Kunce. Transferiu-se para a Academia de Belas Artes de Varsóvia em 1990, ao obter bolsa de estudos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-Brasil). Na instituição, frequentou os estúdios de Gravura em Metal com Rafal Strent, de Cartaz com Miczeslaw Wasilewski e Projeto e Ilustração de Livros com Janusz Stanny, concluindo-os em 1992, ano em que retornou ao Brasil. Mas seu intercâmbio com o país de origem de sua família não parou por aí. Em 1997, voltou à Polônia para fazer estágio no Ateliê de Conservação e Restauração de Obras de Arte em Papel, na Biblioteca Nacional de Varsóvia. Em 2016, fez o curso de férias do idioma polonês no Varia Center of Polish Language, em Cracóvia. Durante todo o tempo em que estudou na Polônia, Heliana Grudzien atuou como colaboradora e curadora de exposições brasileiras na Sociedade Polono-Brasileira e na Embaixada do Brasil, em Varsóvia. Quando em Curitiba, promoveu intercâmbio com artistas poloneses, trazendo para a cidade, entre outras, a exposição “IXION – Polônia: Tapeçaria Contemporânea” e, por duas vezes, o designer de cartazes Piotr Kunce. É cofundadora da Casa da Cultura Polônia Brasil. Os estudos na Polônia e o contato com a arte, a cultura e a convivência com o povo polonês foram marcantes e definitivos para o amadurecimento de seu processo criativo. Sua obra tornou-se vigorosa, significativa, impregnada de ícones, atmosfera e intensidade dramáticas, influenciada pelo clima do cartaz, do teatro – em especial o teatro de Tadeusz Kantor – e pela monumentalidade da paisagem das cidades polonesas. O informal, o impossível, a reflexão sobre o caos, a memória e a reinvenção, aliados ao nonsense, são notáveis em suas pinturas, gravuras, desenhos e ilustrações. A artista incursiona livremente por diversas linguagens artísticas, como neoexpressionismo, hiper-realismo, realismo mágico, neorrealismo, surrealismo, figurativismo, abstracionismo e metalinguagem. Espontânea e irreverentemente, experimenta em suas composições materiais incomuns, diferentes suportes e instrumentos, que resultam em ricas faturas. Os temas abordados são, em sua maioria, animais, impressões e paisagens da memória, personagens que povoaram sua infância e sua trajetória, aos quais empresta elementos poéticos que desnudam suas emoções e fascinações pessoais, tornando-os, ao mesmo tempo, universais. Como ela mesma explica: A arte – no meu caso a pintura, o desenho, a gravura e a literatura – é o resultado de um exercício rotineiro que deriva de um estado sensível, ao mesmo tempo que angustiante. A dualidade – sensibilidade e angústia – move a minha criação artística, pelo simples fato de que me sinto uma espectadora consciente e lúcida do universo que me cerca. À medida que produzo arte, a sensibilidade e a angústia ecoam em absoluto e se transformam em satisfação plena e definitiva. Essa satisfação aponta sempre na direção do amadurecimento e da disciplina. Tenho, então, a convicção de que a minha próxima obra será melhor do que aquela que acabei de concluir. E assim sucessivamente. Heliana Grudzien, além de uma extensa produção nas artes visuais como ilustradora de revistas, capas de CDs, painéis e cartazes para teatro, passou a atuar como arte-educadora e como ilustradora e autora de literatura infantojuvenil. Ministrou oficinas de literatura e artes visuais para crianças e adultos em instituições oficiais e particulares. Ilustrou 48 livros de autores nacionais e estrangeiros. Escreveu e ilustrou os títulos Dias felizes, Coleção Adivinhe quem sou, A vida no Abissal, Final feliz, A Menina Liberdade, Trenzinhos de papel, O poema do menino. Em parceria com Adélia Maria Woellner, criou a Coleção Valores humanos e, em parceria com Denise Grudzien, sua irmã, também artista e ilustradora, deu vida aos livros Homem voa? Voa! e Aprendendo com os índios. A brilhante trajetória artística de Heliana Grudzien é comprovada por seu extenso currículo. Entre 1985 e 2006 realizou 16 exposições individuais e participou de mais de uma centena de coletivas. Possui obras em importantes acervos, como o do Museu de Arte Contemporânea do Paraná e o do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Recebeu prêmios em salões e festivais de artes visuais e literatura no Brasil e no exterior, dentre os quais se destaca o do 9th International Festival Book Art: Correspondence, na Polônia. A Coleção Adivinhe quem sou figurou na lista oficial do Programa Nacional do Livro e do Material Didático de 2004, e o livro Aprendendo com os índios na do Programa Nacional Biblioteca da Escola de 2007, ambos do Ministério da Educação Brasileiro. Essa pintora, desenhista, gravadora, restauradora, ilustradora e escritora contempla a história das artes visuais e da literatura infantil paranaense com uma obra profundamente voltada ao ser humano e à natureza. Intensa, poética e atemporal. Vive e trabalha em Curitiba.
(Coautoria: Heliana Grudzien e Ivi Belmonte)
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